A família BRITO E CUNHA de Matosinhos
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Os Mártires da Liberdade (JN 08/05/2000)

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Mártires Liberais

Ao recordar e dignificar os seus mártires o Porto assume-se como cidade berço da Liberdade

Convido o leitor para me acompanhar num itinerário em que se evoca um dos dias mais trágicos da história do Porto, mas que constituiu, simultaneamente, um daqueles actos de supremo sacrifício e de abnegada virtude, em que viria a assentar, mais tarde, a legenda de INVICTA que a cidade orgulhosamente ostenta no seu brasão.

Como ponto de partida sugiro o pedestal que sustenta a estátua de D. Pedro IV, na Praça da Liberdade, designação que anda indelevelmente ligada ao assunto em causa. Repare o leitor em duas placas de bronze que estão à direita e à esquerda da base do monumento. Foram ali mandadas colocar pela Câmara Municipal em 1914. Em cada uma delas estão gravados vários nomes. Correspondem aos de doze liberais que naquele mesmo local foram enforcados por ordem dos tribunais miguelistas.

Aconteceu tudo há já muito tempo. Há, exactamente, cento e setenta e um anos, ontem completados.

O dia 7 de Maio de 1829 amanheceu, no Porto, de cariz sombrio. Uma espessa e pesada melancolia envolvia toda a cidade, tão densa e húmida como a própria neblina que subia do Douro. Na então chamada Praça Nova estavam levantadas duas forcas, pintadas de roxo, à espera, se assim se pode dizer, dos liberais que haveriam de chegar “com baraço e pregão” como ordenava a sanguinária sentença. Antes, aquelas mesmas forcas haviam servido para nelas serem pendurados três ladrões de estrada. Num mero exercício de imaginação, acompanhemos os condenados, desde o edifício da cadeia, na Cordoaria, até ao cadafalso. Enquadravam um cortejo, no mínimo, sinistro. À frente a cavalaria, como nas procissões solenes, em farda de gala. A ladear os condenados, a infantaria e outros guardas apeados, de baioneta calada. O som lúgubre, produzido pelo bater dos cascos das alimárias e das botas dos soldados, no lajedo da calçada, confundia-se com as preces e os cânticos em latim dos confessores e mais padres que assistiam aos réus. Um pouco mais atrás, vinham os meirinhos e demais oficiais de justiça, envoltos no negro das suas capas tradicionais, e a fechar os irmãos da Misericórdia, de balandraus e com a bandeira alçada.

O desfile saiu do Olival, meteu à Calçada dos Clérigos e entrou na Praça Nova. Da execução da sentença encarregaram-se dois carrascos, um de Lisboa e o famigerado João Branco, do Porto, “um facínora e ébrio inveterado”, segundo se escreveu num jornal daquele tempo. Outro jornal, “O Correio do Porto”, afecto, claro, à causa miguelista, considerou a sentença que mandou para a forca os liberais, “era um serviço a Deus, a el-rei e à sociedade”.

“Porto” e pão de ló

Onde hoje está o Banco Nacional Ultramarino era o convento dos frades de S. Filipe de Néri que das janelas das suas celas assistiram a tudo, brindando com cálices de vinho do Porto e pão de ló “a D. Miguel e à santa religião...”

Logo a seguir às execuções, os carrascos cortaram as cabeças aos corpos inertes para que se desse total cumprimento à sentença. Com efeito constava dela que as cabeças deveriam ser espetadas em altos postes e colocadas diante das casas dos mais próximos familiares das vítimas, “como exemplo”. Simplesmente sinistro.

Pela uma hora da tarde “os trabalhos” estavam terminados. João Branco, e o outro carrasco, dirigiram-se ao tanque da Senhora da Natividade que havia onde agora está o Banco de Portugal e, com o possa, lavaram paulatinamente as facas das decapitações e as mãos e os braços “retintos de sangue”.

Um dos supliciados nas forcas da Praça Nova foi António Bernardo de Brito e Cunha, cavaleiro professo das Ordens de Cristo e da Conceição, contador da Real Fazenda. Tinha 47 anos de idade e era natural do Porto onde residia, na Rua das Taipas. A casa ainda lá está, com o brasão da família na frontaria. Consta que depois daquele trágico acontecimento, e durante muitas gerações, ninguém daquela família portuense voltou a pisar o centro da Praça Nova, em homenagem e por respeito à memória do seu antepassado.

Os corpos decapitados dos Mártires da Liberdade que morreram nas forcas da Praça Nova foram depois conduzidos pelos irmãos da Misericórdia para o adro dos enforcados e aí enterrados ao lado dos cadáveres de criminosos de delito comum. Esse cemitério ficava nas traseiras do Hospital de Santo António onde recentemente foi construída a nova fase daquele estabelecimento hospitalar.

Em 1836, três anos depois da vitória dos liberais, exactamente no dia em que se completava o sétimo aniversário da execução, os restos mortais dos liberais enforcados na Praça Nova foram trasladados para um sarcófago de pedra que depois foi colocado no átrio da igreja da Misericórdia, na Rua das Flores.

Em 18 de Junho de 1878 as ossadas dos Mártires da Liberdade deixaram definitivamente o sarcófago do átrio da igreja da Misericórdia e foram transferidas para um mausoléu especialmente construído para o efeito no cemitério privativo da Santa Casa, no Prado do Repouso, onde ainda se encontram.

Onde ir

O Porto, cioso dos seus pergaminhos que o identificam como baluarte da Liberdade, honrou os seus Mártires evocando-os na toponímia da cidade em dois sítios diferentes: Campo dos Mártires da Pátria e Rua dos Mártires da Liberdade. Foram iniciativas do Município, naturalmente apoiadas pelos munícipes. Mas o povo anónimo, esse já antes havia manifestado a sua total solidariedade aos seus ilustres antepassados de uma forma simples mas cheia de profundo significado, ao mandar levantar, à custa de donativos particulares, à entrada do então chamado Largo do Olival (hoje Campo dos Mártires da Pátria) um monumento fúnebre evocativo dos trágicos acontecimentos da Praça Nova, constituído por uma coluna sobre a qual foi colocada uma figura representando a cidade. Desapareceu já esse singelo monumento que pretendia tão somente representar o triunfo da virtude sobre a tirania. A melhor maneira de honrarmos, hoje, a memória dos Mártires da Liberdade será uma visita ao Mausoléu do Prado do Repouso onde religiosamente se guardam os frios e inertes restos mortais dos Mártires, fiéis conservadores da Honra e da Liberdade tão rudemente sacrificados no altar da tirania.


Germano Silva

(in “Jornal de Notícias” de 8 de Maio de 2000 – pág. 40)

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