História sobre a Inauguração da Ponte da Arrábida (recontada em 27/11/2007)
Inauguração da Ponte da Arrábida
Corria o ano de 1963.
O tio João era então Governador Civil do Porto e foi informado pela Presidência do Conselho de Ministros que o Presidente do Conselho visitaria a Ponte da Arrábida na tarde do dia 21 de Junho, véspera da inauguração oficial.
(Os mais velhos lembram-se que Salazar nunca estava presente naquelas cerimónias, não deixando no entanto de visitar “discretamente” a obra na véspera, antes de ela ser desembrulhada.)
O tio João logo decidiu aguardá-lo no limite do distrito, e cedo, depois de almoçar, lá se dirigiu para o Picoto, ao km 283 (S-N) da EN nº.1.
Sem atraso, na hora aprazada, chegava o Mercedes preto de Salazar, de que os mais velhos também ainda se lembram, com a matrícula DA-10-72 (o carro, modelo 770 Grosser W-07, pode ser visto no Museu do Caramulo).
Ao aperceber-se da presença do Governador na estrada, o motorista foi instruído para parar e Salazar, que vinha acompanhado da Sra. Dª. Maria das Neves Rebelo de Sousa (mulher do Dr. Baltasar e mãe de Marcelo), convidou o tio João para entrar e os acompanhar no trajecto até ao Porto.
Da conversa que entretiveram durante a viagem, e que suponho terá sido de circunstância, não reza a história.
Quando chegaram à ponte, o motorista abrandou a marcha e os primeiros comentários de Salazar foram de entusiasmo perante a beleza da vista.
Já no tabuleiro da ponte, Salazar, intrigado, inquiriu o tio João sobre o revestimento das colunas de suporte da ponte, duas a Norte e duas a Sul. Apontou e perguntou:
- Senhor Governador, que é aquilo?!
O carro entretanto já parara frente à coluna à sua direita.
O tio João, orgulhoso, apressou-se a elucidar o ilustre visitante:
- Saiba o Senhor Presidente que são quatro painéis de altos-relevos da autoria do escultor portuense Barata Feyo.
Fez-se um silêncio. Salazar ficou a olhar na direcção do painel. Seguiu-se outro silêncio. Depois comentou:
- Lá feios são e não acredito que tenham sido baratos!
***
História contada, resta-me acrescentar que ela vale pelo humor, pois que Salvador Barata Feyo, embora tendo nascido em Moçâmedes viveu toda a sua vida no Porto, até à sua morte em 1990, onde foi professor na Escola de Belas Artes e Director do Museu Nacional Soares dos Reis, é consensualmente considerado entre os melhores escultores portugueses do século XX e Salazar sabia-o bem, como é evidente.
Ruy Gonçalo de Brito e Cunha
([email protected])
27 de Novembro de 2007
***
Corria o ano de 1963.
O tio João era então Governador Civil do Porto e foi informado pela Presidência do Conselho de Ministros que o Presidente do Conselho visitaria a Ponte da Arrábida na tarde do dia 21 de Junho, véspera da inauguração oficial.
(Os mais velhos lembram-se que Salazar nunca estava presente naquelas cerimónias, não deixando no entanto de visitar “discretamente” a obra na véspera, antes de ela ser desembrulhada.)
O tio João logo decidiu aguardá-lo no limite do distrito, e cedo, depois de almoçar, lá se dirigiu para o Picoto, ao km 283 (S-N) da EN nº.1.
Sem atraso, na hora aprazada, chegava o Mercedes preto de Salazar, de que os mais velhos também ainda se lembram, com a matrícula DA-10-72 (o carro, modelo 770 Grosser W-07, pode ser visto no Museu do Caramulo).
Ao aperceber-se da presença do Governador na estrada, o motorista foi instruído para parar e Salazar, que vinha acompanhado da Sra. Dª. Maria das Neves Rebelo de Sousa (mulher do Dr. Baltasar e mãe de Marcelo), convidou o tio João para entrar e os acompanhar no trajecto até ao Porto.
Da conversa que entretiveram durante a viagem, e que suponho terá sido de circunstância, não reza a história.
Quando chegaram à ponte, o motorista abrandou a marcha e os primeiros comentários de Salazar foram de entusiasmo perante a beleza da vista.
Já no tabuleiro da ponte, Salazar, intrigado, inquiriu o tio João sobre o revestimento das colunas de suporte da ponte, duas a Norte e duas a Sul. Apontou e perguntou:
- Senhor Governador, que é aquilo?!
O carro entretanto já parara frente à coluna à sua direita.
O tio João, orgulhoso, apressou-se a elucidar o ilustre visitante:
- Saiba o Senhor Presidente que são quatro painéis de altos-relevos da autoria do escultor portuense Barata Feyo.
Fez-se um silêncio. Salazar ficou a olhar na direcção do painel. Seguiu-se outro silêncio. Depois comentou:
- Lá feios são e não acredito que tenham sido baratos!
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História contada, resta-me acrescentar que ela vale pelo humor, pois que Salvador Barata Feyo, embora tendo nascido em Moçâmedes viveu toda a sua vida no Porto, até à sua morte em 1990, onde foi professor na Escola de Belas Artes e Director do Museu Nacional Soares dos Reis, é consensualmente considerado entre os melhores escultores portugueses do século XX e Salazar sabia-o bem, como é evidente.
Ruy Gonçalo de Brito e Cunha
([email protected])
27 de Novembro de 2007
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